sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

A internet é uma bagunça, afirma Pierre Lévy


Lévy explica que o presente marcha rumo a um futuro paralelo (Foto: Davi Lira/Especial para o JC Online)

Davi Lira
Especial para o JC Online

"A biblioteca é uma bagunça. Essa é uma possível descrição para a situação da internet hoje", afirma Pierre Lévy, em sua primeira passagem pelo Recife, durante palestra de abertura do 3º Simpósio Hipertexto e Tecnologias da Educação, realizada na Concha Acústica da Universidade Federal de Pernambuco, nessa quinta (2).

O doutor em Sociologia, Ciências da Informação e Comunicação foi excessivamente didático durante a apresentação, repleta de termos técnicos e cheia de visões de um futuro não menos complexo. "Estamos nos dirigindo a uma autoreflexividade da inteligência humana coletiva", disse, citando a popularização da internet como um caminho para a construção de um novo espaço antropológico, o espaço do saber interconectado. Essa inteligência coletiva, segundo Lévy, não seria aplicada apenas na dimensão do conhecimento, atingiria também, e de maneira expressiva, as esferas política, social e econômica.

Ideia central durante grande parte de sua vasta obra de mais de uma dezena de livros traduzidos para o português, Lévy acredita que o presente marcha rumo a um futuro paralelo. "A mídia digital ainda não foi completamente alcançada", diz. Segundo o professor de Ottawa, depois do desenvolvimento em 1950 da noção de manipulador automático de símbolos - os computadores -, a ideia de conhecimento passou por uma revolução nos passos seguintes.

"Em 1980, a Internet surge em meio ao desenvolvimento de toda a computação e manipulação de símbolos, representada pelos hardwares, e mais especialmente pelos softwares", afirma. Depois, em um terceiro momento, Lévy aponta que surge em 1995, uma nova camada de endereçamento de página com a invenção do "www". "A partir daí, a noção de rede foi aclamada e ficou acima da internet".

O grande momento se vislumbra a partir de então. "Ainda haverá uma outra camada, complementar, trabalhando em paralelo à internet caótica que conhecemos hoje. Um sistema de sequenciamento de conceitos, e não de dados", situa o filósofo. "É na cultura do metadado, onde os conceitos serão localizados a partir da semântica da informação, não da url", explica Lévy.

Segundo ele, ainda falta à humanidade uma mente global. "Nós temos hoje materialmente, um cérebro global, precisamos agora de uma matemática, por exemplo, que seja capaz de descrever as operações da mente", diz, resumindo a noção de Inteligência Coletiva Computacional. "Este é um mundo de perguntas", provoca Lévy. "Sabemos que não sabemos; temos uma inteligência que é capaz de reconhecer a própria ignorância. Isso nos diferencia e muito dos demais animais". De acordo com ele, atualmente, são vários os exemplos de hipertextos opacos que divergem dessa noção de mente global. "O GPS é um exemplo emblemático; não dá significado aos dados que captura".

GERENCIAMENTO - Segundo Pierre Lévy, vai ser através do gerenciamento pessoal da informação, com definição de prioridades, seleção de fontes, organização do fluxo informacional, noção de filtragem, categorização e registro que o processo comunicacional vai se tornar mais eficiente, efetivo e propiciar um ciclo de conversação mais civilizado, dentro do atual contexto de caos informacional.

Quanto ao futuro, Lévy insiste na necessidade de associação entre o tempo sequencial e a memória. "Sem o mundo real material do cosmos, não há mente", diz, destacando o valor simbólico da memória como possibilidade metalinguística de futuro. "A nossa memória, por exemplo, não é organizada em um espaço quadrimensional. Suas ideias e lembranças são ligadas pela semântica, pelos sentidos, de acordo com a importância, mas tudo isso ocorre em outro universo, esse é o ponto", afirma o filósofo, logo após pedir para a plateia respirar fundo e lentamente, para melhor captar a essência dessa previsões tão novas, mas de uma lucidez invejável.


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